sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A homenagem ao presidente João Goulart

Foto: Roberto Stuckert Filho/PR


Com honras de chefe de Estado, corpo de Jango chega a Brasília
Do Globo

A cerimônia de honras militares em homenagem ao ex-presidente João Goulart, cujos restos mortais chegaram ontem para análise no Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, foi marcada pela comoção. A presidente Dilma Rousseff se emocionou, mas conteve o choro, amparando a ex-primeira-dama Maria Tereza Goulart, que foi às lágrimas durante boa parte da solenidade.

Para a presidente, foi "um encontro do Brasil com sua história" e a "afirmação da democracia". Para a viúva, demorou, mas o Estado brasileiro finalmente reconheceu a importância de Jango como presidente. — É muito importante esse momento, é um resgate da memória do meu marido. A presença de todo mundo aqui é muito, muito importante. Foi um momento que eu não vou esquecer mais na minha vida. Realmente, que faz a gente esquecer até um pouquinho do passado, porque foi um momento muito bonito — disse Maria Tereza, após a cerimônia, que durou 20 minutos.

Disse ainda que homenagem "demorou um pouco" e concordou que a dívida do Estado com Jango e a família foi quitada: — Demorou um pouco, mas nunca é tarde. Sempre há um momento em que a gente espera que aconteça alguma coisa importante. De coragem e de reconhecimento pelo presidente que ele foi. Porque acho que merecia. Os ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva participaram do ato juntamente com familiares de Jango, ministros e parlamentares.

Pouco antes de ir para a cerimônia, Dilma, que instalou a Comissão da Verdade em maio do ano passado, disse no Twitter que Jango foi "o único presidente a morrer no exílio, em circunstâncias ainda a serem esclarecidas por exames periciais. A urna chegou a Brasília no fim da manhã, a bordo de um avião da Força Aérea Brasileira, e foi conduzida por militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Na chegada, os despojos foram recebidos com honras de chefe de Estado: salva de 21 tiros de canhão e execução do Hino Nacional. Sob a marcha fúnebre, o esquife foi colocado em um aparador de prata.

Em seguida, a presidente e a ex-primeira-dama depositaram uma coroa de flores sobre a urna. Maria Tereza se emocionou muito e foi carinhosamente abraçada pela presidente, também bastante emotiva. A ex- primeira-dama recebeu de Dilma a Bandeira do Brasil que cobria o caixão.A ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse que a homenagem, reunindo civis e militares, simboliza a valorização da democracia:— A democracia não é algo pronto, é algo que se constrói todos os dias, inclusive com momento como este, no qual homenageamos um presidente constitucionalmente estabelecido e que foi deposto em uma circunstância de golpe.

Filho de Jango, João Vicente Goulart disse que, quase 50 anos após a instalação da ditadura militar, o Brasil está no caminho certo para apurar e reparar as violações cometidas no período.— Estamos no caminho certo, não só pelo processo de averiguação da morte do presidente João Goulart. Temos aí a Comissão da Verdade e a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos. Mas é um processo lento de amadurecimento da sociedade brasileira. Vários documentos mostram a perseguição a Jango diuturnamente no exílio e esperamos documentos que mostrem perseguição a outros brasileiros também — afirmou.

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